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Aconcágua Invernal - O Sucesso da Expedição

Resende, 03 de Setembro de 2004

Depois de algum tempo da chegada da Expedição ao Aconcágua Invernal, nada melhor que fazer uma síntese dessa jornada de 17 dias.

É bem verdade que fui pego no "susto" para integrar o time de alpinistas e minha ida foi confirmada três dias antes da partida. Consegui remanejar outro projeto que já estava sendo realizado, arrumei as malas e parti.

Talvez uma das imagens que mais ficou em minha memória foi a chegada na entrada do parque e ver o principal cartão postal, a Laguna Horcones, totalmente congelada e cercada por neve por todos os lados.

A partir daquele ponto, tudo para mim passou a ser uma incógnita com várias perguntas sem respostas:

Teríamos que caminhar com uma camada de neve muito alta?
Como seriam as tempestades do inverno, já que as do verão promovem situações quase desumanas?
Qual seria a temperatura média e a mínima que estaríamos sujeitos?

Já nos 40 kms de aproximação até o acampamento base, pudemos notar que o inverno realmente provoucou algumas modificações em relação ao verão.

Apesar de todos estarem equipados com raquetes de neve, a camada de neve, que estava baixa em quase todo percurso, não ofereceu problemas. Mas, no lugar conhecido como Playa Anche, um imenso corredor cercado por montanhas por todos os lados, soprava um vento tão forte (cerca de 80 km/h) que mal conseguíamos andar.

A cada rajada de vento, uma nuvem de poeira e pedrinhas vinham como a fúria dos Deuses que queriam nos afastar daquele lugar tâo inóspito. Em contra-partida, em outro ponto, conseguimos tirar vantagem da situação pois em um grande trecho , trocamos o "sobe e desce" da trilha pela caminhada plana sobre o congelado Rio Horcones. É claro que havia o risco da superfície de gelo partir, mas tivemos sorte e nada aconteceu.

Chegamos, após 4 dias e embaixo de uma fina nevasca, no acampamento base (ou melhor no Hotel Refúgio Plaza de Mulas que foi aberto exclusivamente para a nossa expedição) com um dia de atraso de nosso planejamento devido aos fortes ventos.

Em alguns momentos dentro do Hotel, devido à estrutura existente (aquecedor, ótima comida, ausência de vento...) foi possível até esquecer que estávamos numa escalada invernal. Mas mesmo assim, nos dias mais frios, possivelmente a temperatura chegou a 15 graus negativos dentro do hotel. (lá fora próximo aos 20 graus negativos) .

Durante a aclimatação, fui concluindo que no inverno existe basicamente dois tipos de clima:

BOM - apesar de fazer frio no início e final do dia, é possível, nas horas mais quentes, ficar somente com um agasalho. Geralmente esse perfil é mantido em alguns dias e não venta.

RUIM - a rigidez da estação do inverno impera: temperaturas mais baixas e ventos fortes nos dão a sensação térmica muito mais baixa. Estar sempre acompanhando a previsão do tempo é fundamental para os passos na montanha. Nossa mínima registrada foi de 35 graus abaixo de zero.

E foi nesses dias de aclimatação que senti o maior prazer de escalar o Aconcágua. Quem já foi ao Aconcágua consegue imaginar a montanha sem barracas, sem corpos descendo no lombo de mulas, sem o barulho de humanos ... sem uma alma viva? Por temporada são 4 mil pessoas que entram no parque e tive o privilégio de ser o primeiro a chegar próximos aos 6 mil metros sabendo que há meses ninguém havia pisado ali.

O DIA D

A 5.350 metros, no acampamento de Ninho dos Condores, Rodrigo Raineri e Vitor Negrete planejavam os seus próximos passos. O dia havia sido maravilhoso...como um dia bom de verão...e não fazia frio.

A estratégia incial era fazer o ataque ao cume de um ponto mais alto que o normalmente realizado, a 6 mil metros, com o objetivo de aumentar as chances. Rodrigo queria fazer o ataque nas próximas horas para não disperdiçar os dias maravilhosos que estávamos passando, ou seja, na própria madrugada, mas o resto do grupo queria manter a estratégia inicial, ou seja, subir e fazer o ataque num outro dia.

Participando das discursão, Vitor me perguntou o que eu achava: “cara, você tem que ir, não pode perder um dia maravilhoso como esse, se eu pudesse, já estava lá, e se o tempo piora?” Logo Rodrigo e Vitor decidiram partir enquanto o restante do grupo sairia no dia seguinte para o acampamento Berlim a 6 mil metros, e fazer o ataque no outro dia.

No acampamento Berlim esperávamos ansiosos o retorno para celebrarmos a conquista e nos preparávamos para o nosso ataque.

E, foi a decisão acertada, por volta do meio dia, Rodrigo e Vitor que foram os primeiros brasileiros a escalar a Face Sul do Aconcágua, tornaram-se os primeiros a escalar o monte Aconcágua no Inverno.

Acordamos às 3 da manhã e o barulho que vinha de fora indicava que o tempo já não era o mesmo...o vento soprava forte. Quando começamos a escalada, havia uma nuvem baixa e ventava muito. Quanto mais subíamos, mais o tempo piorava até que começou nevar, o vento não nos permitia ficarmos em pé e em determinado momento nos encontramos no meio de um "whiteout", ou seja, não dava para ver quase nada em todas as direções que olhávamos.

Concordei com Clayton Conservani, quando decidiu retornar pois as condições estavam péssimas. Com meus quase 9 anos de experiência em montanha, já vi muita coisa ruim acontecendo e não queria fazer parte da estatística.

Voltamos bem próximo do Refúgio Independência a 6.300 metros. Ana Boscarioli e a argentina Popi também decidiram voltar logo em seguida. (elas poderiam ser as primeiras mulheres do mundo a chegar no topo do Aconcágua no inverno).

Em um misto de coragem, garra e também "insanidade", o paulista Antônio Carlos Soares, o carioca Roman Romancini e o argentino Horácio Cunietti continuaram a escalada e chegaram ao topo, o que para mim pode ser considerado o grande feito da expedição devido às condições totalmente adversas.

Apesar de não voltar com mais essa conquista, volto feliz de ter participado dessa jornada. Volto com algumas lições para não se repetir mais no futuro. Volto com outro grandioso objetivo que está por vir...

Veja as Fotos

Um abraço do tamanho do EVEREST

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