A Sentinela do Deserto, um sonho a 6 mil metros

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A SENTINELA DO DESERTO, UM SONHO A 6 MIL METROS

Deixamos definitivamente a cidade de San Pedro do Atacama e também o Deserto do Atacama no Chile. Com um deslocamento de apenas 60 quilômetros saímos de uma altitude de 2.700 metros e chegamos aos 4.200 metros de altitude. Anunciada por uma placa e uma simples cancela chegamos na Bolívia tendo como objetivo outro deserto, o Deserto de Uyuni, a maior reserva de sal do planeta.

Apesar de um deserto sempre fazer com que imaginemos cenários muito homogêneos, é marcante a diferença de características entre um e outro. O mais prazeroso foi que pudemos passar pela zona de transição entre estes dois desertos. Menos de 500 km separam o Deserto do Atacama do Deserto de Uyuni.

Foto: Guilherme Rocha

Para seguir o caminho a Bolívia, é necessário entrar na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa (REA), uma área de 60Km² e criada há 30 anos, destinada a conservar a fauna andina e a melhorar a qualidade de vida dos moradores locais. Trata-se do habitat natural de espécies variadas de fauna e flora, com destaque aos flamingos andinos (os mais encontrados são os chilensis andinus e jamesi), espécies dos camelídios, como lhamas, vicunhas e guanacos e arbustos característicos com a thola e quenua, além de uma espécie chamada yareta, planta resinosa e característica da região.

Passaporte carimbado e depois do pagamento do bilhete da reserva adentramos nesse novo Mundo. De cara, encontramos duas lagoas: a Branca com suas águas repletas de Flamingos e a Verde que tem esta coloração devido a alta concentração de sais e arsênio, substância cancerígena. Devido a constituição da Laguna Verde, mesmo que a temperatura chegue aos 25 graus abaixo de zero, suas águas não congelam.

Visual da Laguna Verde do topo do Licancabur
Foto: Guilherme Rocha

Agora estamos diante do mais difícil desafio da Expedição Desertos. Nosso objetivo é grandioso: grande no tamanho e no desejo da conquista. Chegar ao topo do vulcão Licancabur é um sonho de Patricia Linger, Silvio Oliveira e Albert Júnior. Como realizar um sonho não é uma coisa que fazemos todo dia, passo a palavra para Silvio e Patricia:

- Boa parte dos meus amigos são alpinistas e sempre convivi com o espírito de se “conquistar uma montanha” e sonhava em ver, na prática, qual era esta tal emoção que faz até os homens mais barbados chorarem que nem as mulheres!! A idéia de subir o Licancabur veio como uma luva, pois não precisaria equipamentos de alta montanha e nem técnicas de escalada, apesar de o vulcão ter 6.000m de altitude e haver a famosa falta de oxigênio, causando todo aquele mal de montanha que todo mundo fala! E estaria ao lado de duas pessoas que tinham experiência em outras montanhas, o que me animou mais ainda. - diz Patlinger.

- Tinha uma vaga noção de como era escalar uma alta montanha, sabia apenas que era um lugar inóspito, com pouquíssimo oxigênio e que todos que chegam ao
cume voltam maravilhados.Estava ansioso para encarar uma aventura assim como esta, afinal estou me sentindo livre como um pássaro e com uma confiança em mim mesmo e em meus companheiros que seria capaz de encarar qualquer desafio só pelo prazer de desbravar novos horizontes. - fala Silvio

"Eu estava tão ansiosa, que quase não dormi à noite na barraca. E, não via a hora de acordar. Às 4:30hs da manhã, todos já estavam de pé e eu comecei com o pé esquerdo!. Acordei morrendo de frio, com ânsia e vomitei atrás do carro, para ninguém ver. No acampamento já estávamos 4.700 m, que já causa os sintomas de alta altitude. Não contei para ninguém, pois tive medo de que não me deixassem subir! Na verdade, como não tínhamos muito tempo para a aclimatação, preferimos chegar um dia antes na base e subir no dia seguinte.

Depois do macarrão de café da manhã, preparo da comida que levaríamos, saímos a pé em direção ao vulcão, com temperatura de -2 graus. Eu estava super agasalhada e com as roupas do Guilherme (que usa para subir montanha com temperatura de – 20 graus). E ainda fui escutando o Guilherme me dizendo que estava agasalhada de mais e que não iria carregar minhas roupas na subida! Dito e feito, assim que o sol apareceu, comecei a tirar os agasalhos, luvas, meias e a maioria das peças foram para a mochila dele, além da minha máquina fotográfica, pois queria que ele tirasse fotos todo hora!" - continua Patricia.

Aqui vou abrir um parêntese, assim que avistamos o Vulcão, Silvio em tom de desprezo disse: "é só isso, ah assim não tem graça!!!" Já Albert com o pé no chão, durante a subida disse que nunca havia feito algo tão difícil na vida, mas a emoção de estar ali e tão perto de conquistar um sonho valeria qualquer esforço.

"Subir não fui nenhuma moleza como achei que seria, não aclimatei bem, e logo senti dor de cabeça e muita tontura e os vários tombos que levei foram inevitáveis. Sei que se não fosse pelos meus amigos que me apoiaram e me incentivaram a continuar a subir provavelmente não teria conseguido." - diz Silvio mudando de opinião.

"O Guilherme fez esquema “sargentão”, com 1 hora de caminhada intercalando 15min de parada (para descanso e alimentos rápidos) e uma parada maior para um lanche reforçado quando estávamos há duas horas do pico. A subida foi difícil e realmente falta ar, nos deixando mais fracos, com sono e dor de cabeça. Foram seis horas de subida forte em pedras que rolavam, dificultando a ascensão. E, para piorar, escorregávamos bastante e tinha hora que usávamos “os quatro apoios” para subir! Na última hora , queríamos parar toda hora pois estávamos muito cansados, mas quando chegamos num trecho com neve, nos animamos para terminar a subida (para variar, brasileiro quando vê neve, é guerrinha na certa!!).

A alegria foi imediata quando vimos o lago na cratera do vulcão. Eu, pelo menos, comecei a berrar e senti uma emoção bem gostosa e entendi o que era chegar num cume de uma montanha! AGORA EU POSSO DIZER QUE ENTENDO PERFEITAMENTE!!!. - exclama Patrícia

Patlinger, Albert e Guilherme na cratera do Licancabur
Foto: Silvio de Oliveira

"E quando finalmente cheguei ao cume nossa fiquei de queixo caído e me senti o cara mais pequeno do mundo pela imensidão do lugar e também o mais sortudo do mundo por estar ali.São em momentos assim que vejo como vale a pena viver plenamente. Afinal são estes momentos únicos que ficam guardados para sempre em nossa memória" - diz Silvio que abriu o bocão junto com Albert e Fabio Montanha que já tinha escalado outra alta montanha.

Apesar desta ser minha décima quarta conquista em alta montanha, foi uma escalada especial. Tinha a responsabilidade de defender um sonho de grandes amigos, mesmo sem uma devida aclimatação pois tínhamos pouco tempo. Lá de cima a visão é de uma sentinela que vigia o Deserto do Atacama inteiro no lado chileno e a Reserva Eduardo Avaroa no lado boliviano.

Guilherme no Topo do Licancabur
Foto: Silvio de Oliveira

Dessa vez meu objetivo não foi realizar mais de um dos meus sonhos, graças a Deus exercício comum em minha vida, mas possibilitar a realização do sonho de meus amigos. A SE TODO MUNDO SOUBESSE QUE SONHAR É O COMBUSTÍVEL DA FELICIDADE!!!


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De bike até a cidade mais árida do mundo.

A Expedição Desertos teve o patrocínio:

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Abraços do tamanho do Deserto do Atacama

Guilherme Rocha

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