É
importante saber que basicamente três
grupos de africanos foram trazidos como
escravos para o Brasil. Um desses grupos
é representado pelos sudaneses, da
Nigéria. Gegi do Daomé. Fati-ashanti
da Costa do ouro. O segundo grupo é
o grupo dos guineo-sudaneses, habitantes
abaixo da linha do Saara. O Terceiro grupo
são os Bantos, vindos de Angola,
do Congo e de Moçambique.
É
sabido que quando várias culturas
se misturam acabam gerando uma nova, que
representa a soma do melhor de cada uma
delas. Foi o que se deu por aqui, a mistura
desses grupos com índios e brancos
resultou na africanização
da cultura brasileira.
Esses
povos africanos tinham uma forma própria
de organização e uma forma
própria de organização
e uma maneira de se relacionar com o meio
ambiente que era muito diferente da propiciada
pela visão de mundo européia.
Enquanto os europeus viam o homem como dominador
de todas as coisas, à imagem e semelhança
de seu deus, todo poderoso, os africanos
viam o homem como um todo, integrado pelos
deuses, pela terra e pela natureza. Toda
a cultura africana é representada
nesse universo, em que os valores morais,
sociais e ecológicos são traduzidos
por meio da religiosidade, dos ritos e das
artes em geral.
Tais
valores estão intimamente representados
na dança, que é para os povos
africanos o mais potente elemento de aglutinação
social. Originalmente, a dança estava
intrinsecamente, ligada à cultura
do ancestral africano que, com certeza,
poderíamos considerá-la como
mais um órgão que tivesse
seu corpo. Para eles, a maneira de se relacionar
com o ambiente era percebida pelos sentidos
naturais e traduzida pela dança.
A colonização
e a escravidão praticadas pelos europeus
impuseram valores éticos e morais
que consideravam o corpo impuro e pecaminoso.
Como conseqüência, aquele “órgão”
suplementar que captava a vida e a traduzia
em movimentos foi mutilado.
Restava
aos negros adaptar-se à nova ordem.
Representações e ritos de
passagem e do dia-a-dia, em que o corpo
aparecia livre e exuberante, foram reprimidos,
como a capoeira angola, de origem banta,
cuja base foi o n’golo, um ritual
de casamento praticado na África
que reproduzia as danças de acasalamento
de alguns animais.
A cultura
de um povo, porém, pode ser mutilada,
mas não morre, Adapta-se e sobrevive.
Herdamos o código. A liberdade corporal,
a sexualidade sem vergonha ou medo, a sensualidade
misturada a musicalidade, manifestações
de nossa dança... Dançar para
os negros era uma forma de captar a vida
e traduzi-la em movimentos. Maracatu
Festa
com um misto de tons religiosos e profanos,
o maracatu originou-se na África
com a coroação do rei do Congo.
A partir de sua incorporação
à cultura pernambucana, verifica-se
a existência de duas vertentes: o
baque solto e o baque virado. Alfaia, abê,
gonguê, tarol e o ganzá são
instrumentos básico que dão
ritmo ao maracatu.
Congadas
No sudeste
e no centro-oeste o maracatu se transformou
em congada, e ganhou um caráter de
resistência à escravidão,
estando relacionada com a cultura dos quilombos.
Criada
no Brasil durante o período da escravidão,
a coroação dos reis do Congo
foi a principal manifestação
cultural africana do período colonial.
Reconhecida pela Igreja e pelo senhor do
engenho, a festa consistia numa procissão
que acabava numa Igreja, as preferidas eram
de irmandades de negros, onde acontecia
a coroação do rei e da rainha
de Congo. Durante a caminhada, escravos
rurais, urbanos, mestiços e negros
alforriados realizavam cantos, jogos de
capoeira e danças africanas. A congada
atua são originárias dessas
congadas. Realizadas em todo Brasil de diversas
formas e mescladas de outras festas, elas
basicamente compões-se de autos teatrais,
repentes, desafios e maracatus. A Maior
parte delas já não realiza
a cerimônia principal e os reis já
participam da festa já coroados.
Bumba-Meu-Boi
Uma da
mais brasileira de todas as festas, o Bumba-meu-boi,
entre outros nomes, conforme a localidade
da festa é uma dramatização
que reúne características
indígenas, negras e portuguesas.
O Boi em si é enfeitado com bordados
e penduricalhos coloridos, lembrando as
tourinas portuguesas. A história
do Amo que tem seu boi morto por seu empregado,
para dar carne a sua mulher que estava grávida
e com desejo de comer essa carne, no final
o boi é ressuscitada, numa alusão
a festa de ressurreição animal
comum entre os índios brasileiros.
Da cultura Negra, o Bumba-meu-boi ganhou
o nome, bumbo é um termo congolês
que significava pancada e se refere à
chifrada do animal, o ritmo da música
e os personagens escravos que representam
os vaqueiros. Parintins no Amazonas é
hoje uma versão moderna de uma festa
que há noventa anos era quase toda
indígena, o Boi-Bumbá.
Afoxé
– Ritmo musical oriundo da África,
que faz parte dos rituais e cerimônias
do candomblé. Com sua música
Ijexá, se tornou mais conhecido como
uma tradição baiana, principalmente
após a fundação em
l94l, dos então filhos de Ghandi,
também alavancado por Gilberto Gil
e depois com o Ilê Aiyê, com
Caetano Veloso. Mas o Afoxé existe
em outros estados do Nordeste, para onde
foram levados os africanos das nações
Ketu e Jeji.Agogô – Instrumento
de percussão, feito de metal, também
utilizado nos cultos e nas festas do candomblé
e nos grupos e blocos afros e afoxés.
Baiano ou chorado – Espécie
de lundu que comporta, durante a dança,
desafios dos cantadores. Costuma aparecer
nas representações do bumba-meu-boi.
Batucada
ou pernada carioca – Jogo atlético,
de destreza, no qual os participantes tentam
derrubar o oponente com rasteiras ao som
de estribilhos.
Batuque
– Dança com sapateado e palmas,
ao som de cantigas acompanhadas só
de tambor.
Berimbau – Instrumento musical, geralmente
tocado nas rodas de capoeira.
Calango – Tem sempre a característica
da porfia, onde o refrão-coral fixo
não é obrigatório.
Parente muito próximo do catira e
do cururu, que se distinguem pela obediência
a uma rima que é repetida exaustivamente.
Capoeira
Misto
de dança e luta, tem sua origem certa,
em l595, o Padre José de Anchieta,
no seu Livro “A Arte Gramática
da Língua mais Usada na costa do
Brasil” comenta que os índios
tupi-guaranis divertiam-se jogando capoeira,
aqui começa a polêmica, para
alguns a arte nasceu entre os índios,
outros defendem que ela seria uma herança
das danças dos rituais africanos,
o certo é que a capoeira atravessou
a época da escravidão disfarçada
de dança nos terreiros da casa-grande.
Foi arma mortal no combate corpo-a-corpo
na guerra do Paraguai, foi discriminada,
sendo considerada símbolo da malandragem
e finalmente oficializou-se como única
arte de combate legitimamente brasileira,
em 1907 um desconhecido O.D.C. distribuiu
um folheto com o título “O
guia da Capoeira, que propunha uma metodologia
no ensino da luta”. Hoje a capoeira
já cruzou fronteiras e está
em todos os continentes.
Cateretê
Dança
executada em fileiras que se defrontam,
formadas por homens e mulheres alternadamente,
o acompanhamento é feito por duas
violas.
Chula
Música
cantada em várias danças populares
Coco
Existem
várias vertentes do coco, praieiro,
beira-mar, de roda, tambor de crioula, de
embolada. Esta última vertente toca
nos rádios com toque de rap. O coco
aparece por todo o nordeste e lembra o baião.
Cada tipo de coco tem sua forma poética
e rima diferente, mas sua estrutura é
sempre pergunta e resposta e improvisação,
assim como o repente nordestino, mas enquanto
o repente é acompanhado de viola,
o coco pode ser tocado com vários
instrumentos, ganzá, atabaques ou
apenas com pandeiro.
Ijexá – Ritmo africano usado
nas músicas dos blocos afros mais
antigos da Bahia.
Lundu – Deixa de ser dança
para ser canção de caráter
cômico.
Reggae – Ritmo caribenho incorporado
a musica baiana. A palavra também
é empregada como sinônimo de
festa, diversão ou farra.
Folia
de Reis
Os três
reis magos, Belchior, Gaspar e Baltazar,
que segundo o cristianismo foram guiados
até o menino Jesus, são os
principais personagens dessa festa, trazida
de Portugal pelos colonos em meados do século
XVIII, com trocas de presentes na véspera
do dia de Reis, adquiriu traços mais
populares e se misturou os novos elementos,
como candomblé no Rio de Janeiro,
ou as congadas em Alagoas. Hoje são
dramatizadas as passagens bíblicas
do nascimento de Cristo, da visitação
dos reis magos e da fuga da sagrada família
para o Egito.
Senhor
dos Navegantes
Esta
festa acontece em quase todas as cidades
de pescadores do litoral nordestino. De
caráter religioso, a festa foi introduzida
no Brasil pelos Portugueses católicos,
mas a participação popular
agregou a ela fortes características
africanas, nas procissões barcos
enfeitados, flores, bandeirinhas e cânticos
do candomblé e hinos católicos
marcam a parte musical.
Samba – Nasceu na Bahia, foi trazido
para o Rio de Janeiro onde ganhou várias
vertentes, e hoje é usado na Bahia,
seu som é reconhecido em todo o mundo,
originário, acreditam muitos escritores,
do semba, africano.
Timbal
Instrumento
musical feito de madeira e couro ou acrílico,
amplamente utilizado por grupos musicais
baianos.
Tirando
a música erudita, os negros dão
o tom em tudo no que se refere à
musicalidade, o descendente do escravo negro
teve contato com as harmonias européias
e deu um tempero a essa harmonia, criou
o jazz, o blues, o rockn’roll, o samba,
o reggae, gêneros que sintetizam a
música do século XX. A Cantora
Adriana Calcanhoto, no seu CD senhas, na
faixa negro, diz o seguinte “a música
dos brancos é negra”, no entanto
que mais aparece com a música não
são os negros, não é
regra geral, mas tem sido assim há
algum tempo.
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