A religião de um povo é fator
fundamental para a perpetuação
de sua cultura, ainda na África o
povo negro viu suas religiões serem
atacadas pelos europeus. Desde tempos remotos
a religião é parte da vida
das populações, dados do Diário
Oficial mostram que de 40 em l990, o número
de casas religiosas afro-brasileiras registradas
saltou para 83 em l992. Esse crescimento
acompanha o crescimento das organizações
dos movimentos negros no Brasil.
Em l988,
elas eram 343; atualmente somam perto de
500. Essa relação é
explicável, já que a dimensão
religiosa é um dos elementos mais
fortes de coesão e identidade cultural
da população afro-brasileira.
As religiões negras no Brasil, hoje,
descendem das culturas nagôs, jeje
e banto, e aqui chegam por meio dos escravos
vindos da África Ocidental e Austral.
Nas regiões de origem, era durante
as festas religiosas que os anciãos
reuniam os jovens para lhes contar os fundamentos
do axé, os itans, ou mitos sobre
os orixás, relatando seus feitos
e como deviam ser cultuados.
Assim,
tanto na África como no Brasil, a
maioria dos fundamentos das religiões
é passada oralmente e somente para
os adeptos iniciados, não existindo
registro escrito que permita reconstituir
um culto já extinto.
A tradição manda que no candomblé
sejam cultuados os elementos da natureza
e os ancestrais, desde o primeiro que foi
criado. Cada ser humano está ligado
a um ou mais dos elementos da natureza,
que definem sua personalidade e seu destino.
De acordo com os fundamentos, no princípio
de tudo havia só Olorum, que criou
o mundo e não mais interferiu nele.
Foi seu filho Oxalá quem gerou a
humanidade, e os orixás, que são
entidades protetoras, são os agentes
do deus supremo.
Os orixás mais conhecidos são:
Exu, o guardião - Ogum, o guerreiro
- Oxóssi, o caçador - Ossanha,
o dono das folhas - Oxumarê, o arco-íris
– Xangô, o fogo - Omolu, as
pestes - Iansã, os ventos - Obá,
a força das águas –
Ewa, dona do sexto sentido - Oxum, água
doce - Logum Edé, o caçador
e guerreiro - Iemanjá, a senhora
dos mares - Nanã, dona das águas
lamacentas -.
Oxalufã e Oxaguiã (Oxalá
velho e Oxalá jovem).
Os orixás
representam deuses que habitam dentro de
cada um. Cada pessoa que passa pelos rituais
de iniciação “perde”
sua identidade civil e sua família
carnal para ganhar uma outra, identificada
com seu orixá e a sua família
de santo. Para o povo do santo o autoconhecimento
vem pelas informações sobre
seu próprio orixá. Outra diferença
marcante entre as religiões cristãs
e o candomblé é que o cristianismo
faz uma divisão entre o bem e o mal.
No Candomblé, o bem e o mal estão
presentes em todas as pessoas e em todas
as ações, o seu reconhecimento
depende do olhar de cada um, e só
assim é possível pensar em
equilíbrio. Para chegar a esse equilíbrio,
porém, é fundamental a compreensão
e a assimilação do sagrado.
É ele que permite ao homem torna-se
inteiro, já que existe em cada um
de nós uma porção inexplicável
em termos racionais. Quando pela via da
religião o homem harmoniza-se no
universo, ele se complementa e se expande.
Essa
dimensão religiosa da vida dos povos
negros, com sua visão de unidade
e comunhão com a natureza, não
interessava aos senhores de escravos. Era
perigosa. Abafando-a, Abafando-a, eles procuravam
destruir a identidade dos negros com sua
cultura. Por isso, ainda em nossos dias
a recuperação da identidade
negra passa pela revalorização
de suas raízes religiosas. Muito
embora, ainda hoje é freqüente
o preconceito contra a religiosidade afro-brasileira.
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